segunda-feira, fevereiro 28, 2005
ESFARELA,SIM

coração de pedra
não esfarela
atire primeiro a pedra
essa e aquela e aquarela e lagosta nela
água mole
em pedra dupla
tanto bate
até que duas
canhão e manteiga
legião estrangeira
chuva de areia
Marcos Prado
O OLHO

eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro do meu centro
este poema me olha
Paulo Leminski
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
NOME AOS GATOS


DAR NOME AOS GATOS
T. S. ELIOT
trad. Ivo Barroso
O nome dos gatos é um assunto matreiro.
E não passatempo para entreter parentes:
Podem me achar doido igual a um chapeleiro.
Mas um Gato tem TRÊS NOMES DIFERENTES.
O primeiro é o nome que a família mais usa.
Como Pedro, Augusto, Estêvão, Oliveiros.
Como Vítor, Jorge, ou Jonas ou Fiúza...
Mas nomes nomes que são no entanto corriqueiros.
Outros há pomposos, que parecem mais chiques
Sejam para as damas ou para os cavalheiros:
Como Electra, Egeu, Inês, Afonso Henriques...
Mas nomes que são no fundo corriqueiros.
Ora afirmo: um gato apenas se completa
Com um nome que seja peculiar e distinto;
Como iria então manter a cauda ereta,
Erguer os bigodes e acalentar o instinto?
Dos nomes da espécie, a lista é pequenina:
Como Munkustrap, Quaxó, Coricopato,
E Ágata talvez, talvez Bombalurina...
Nome que se aplica apenas a um só gato.
Mas acima e além, um nome se exorciza,
Esse que jamais nos viria à cabeça,
Procurando em vão pela humana pesquisa...
Só O GATO SABE, mas a ninguém confessa.
Se vires um gato em profundo mutismo,
Saibas a razão que o tempo lhe consome:
Sua mente paira a divagar no abismo
E ele pensa, e pensa, e pena no seu nome:
No inefável afável
Inefanifável
Fundo e inescrutável sentido de seu Nome.
sábado, fevereiro 05, 2005
GUARAQUEÇABA


Jardim da Fantasia
(Paulinho Pedra Azul)
Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
Bem maior que o sol
Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estará meu bem?
Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez
Me beije só mais uma vez
Depois volte prá lá.
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
DIA DA BORBOLETA

borboleta

Há dor no peito que enfeita
Há dor no poeta que aceita
Aquilo que diz e não cala
Há muito não cabe na sala
Partiu para outro mundo
Sem dizer pra que veio
Saiu de um poço sem fundo
Deixou o copo no meio
Triste não estava nem parecia
Mas aquele silêncio acho (*) dizia
me dite - me dite -eu me ditava
E o rio corria levando a lava.
Thadeu e Ivan
* palavra ilegível.