segunda-feira, julho 24, 2006

Entre o Sono e Sonho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.




Fernando Pessoa (1888-1935)
Tradução Alberto Caeiro

Posted by Araiê @ 1:26 PM

domingo, julho 09, 2006

ABRE LOS OJOS













(Dali Museum)

Depois da chuva passeio os olhos
pela imensidão do céu azul escuro.
Sob os olhos de Diana, ela nasce esplendorosa!
Seu som e energia vibrante
invade o mundo agora prateado.
No meu último salto encontro-me envolta
numa pele de cabra.
Liberta sensação de amor!
E quando vejo que a vida é uma contínua morte,
sobressalto-me mas uma força milagrosa
invade minh´alma.
Minha casa é o amor, a rosa.
O orvalho toca suas pétalas
e suas gotas escorrem delicadamente
para a terra - forte, úmida, geradora .
Olho para o céu e ela está grávida.
Na noite sem sombra, seu brilho invade a sala de estar.
E, um dia desperta do sonho,
verei sua face ainda oculta.
Talvez escondida na memória, numa saudade
Meu lado, minha parte.

Posted by Araiê @ 9:34 PM

segunda-feira, julho 03, 2006

PAPILLON
















Só podia ser sonho. Quando vi, já estava na minha direção.
Sem esquiva e sem sombra de dúvida me vi sem ação.
Que torpor nesta sala de parede verde-clara!
Iluminei um cômodo para enxergar, nada.
Sem som, nem sombra volto-me ao espelho.
Receio fita-lo mas só encontro minha imagem refletida.
Em meu rosto, agora pálido, enxergo a luz da noite, e através dos meus olhos
as estrelas constelam poemas, acompanho sua métrica e rima.
Parece um sonho, mas estou desperta.
A chuva despenca do alto em palavras e versos.
Sua correnteza leva-me para outro caminho e começa a contar uma nova
-e incrivelmente mais bela- história.
Corro a favor do vento e vou de encontro à cores lúcidas. Banho-me.
-Agora dorme querida Lua, e que em seu seio repouse as minhas mais belas canções!
O Sol já vem, mansinho quando desperto vejo novamente minha imagem espelhada.
Intrigante, há outro rosto na luz solar.
Minhas asas coloriram
Agora refeita dos dias de sonho, me encontro assim, renascida

Posted by Araiê @ 4:54 PM

Fases da Lua

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"Quem olha pra fora, sonha. Quem olha pra dentro, acorda" Jung

"a noite me pinga uma estrela no olho e passa" Leminski