terça-feira, novembro 28, 2006

DO AMOR
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
Hilda Hilst
Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ventura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.
Hilda Hilst
quarta-feira, novembro 22, 2006
IMAGEM
Tão brando é o movimento
das estrelas, da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.
Desenha-se tão pura
como nunca a tiveste,
nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
da terrena aventura.
Como um cristal se aquieta
minha vida no sono,
venturosa e completa.
E teu rosto aprisiono
em grave luz secreta.
Teu silêncio em meu peito
de tal maneira existe,
reconhecido e aceito,
que chego a ficar triste
de vê-lo tão perfeito.
E não pergunto nada.
Espero que amanheça,
e a cor da madrugada
pouse na tua cabeça
uma rosa encarnada.
CECÍLIA MEIRELES
das estrelas, da lua,
das nuvens e do vento,
que se desenha a tua
face no firmamento.
Desenha-se tão pura
como nunca a tiveste,
nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
da terrena aventura.
Como um cristal se aquieta
minha vida no sono,
venturosa e completa.
E teu rosto aprisiono
em grave luz secreta.
Teu silêncio em meu peito
de tal maneira existe,
reconhecido e aceito,
que chego a ficar triste
de vê-lo tão perfeito.
E não pergunto nada.
Espero que amanheça,
e a cor da madrugada
pouse na tua cabeça
uma rosa encarnada.
CECÍLIA MEIRELES
segunda-feira, novembro 20, 2006
QUE O DEUS VENHA

Sou inquieta, áspera
E desesperançada
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha
Feito farpa
Se tanto amor dentro de mim
Eu tenho, mas no entanto
Continuo inquieta
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É o inesperado
Mas eu sei
Que vou ter paz antes da morte
Que vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida
Clarice Lispector
quinta-feira, novembro 16, 2006
Ao meu grande, único e verdadeiro amor

Nesta lua minguante, minha criatividade acompanhou seu ritmo, não tenho escrito muito e o que arrisco, amasso e deleto. Acho que é assim mesmo.
Relembrando leituras de escritores que viviam deste ofício, vejo Kerouac, Bukowski e Fante entre outros penando por uma linha, um fio condutor que os levassem a bons textos e por muitas horas agonizavam frente a máquina de escrever. Assim, guardando as devidas proporções, me sinto muito mais tranqüila neste parto silábico.
É preciso ter o que dizer e saber como, é necessário intensidade!
Este pema abaixo é do meu pai, impressionante como ele podia oscilar entre a douçura e a acidez. Coisas de poeta.
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que meu amor não seja pra ti pesado fardo
antes borboleta em seu ombro delicado
triste um dia parti e eis-me agora intacto
ficam espinhos enquanto caem flores de cacto
venha entregue a mim, meu jugo é suave
você lembra tudo que me faz sentir saudade
meu coração viu estrelas no céu da sua cidade
olhe-as na minha para ver como sou de verdade
pena que pra tanto amor tão pouca vida
é menos que o meu sentir tudo que eu diga
pudera fora como eras outrora, querida
pluma leve que o tempo leva sem ser ferida
Marcos Prado, Roberto Prado & Thadeu